quinta-feira, 29 de julho de 2010

Lixo Humano


Nesta manhã, assisti estarrecido a retirada de alguns moradores de rua e seus pertences, no bairro de Copacabana.

É desumano o tratamento a eles dispensado. Inacreditavelmente, a população de rua é recolhida em ônibus da COMLURB. Isso mesmo, Companhia Municipal de Limpeza Urbana. (Parece algo nazista. Limpeza étnica. Era assim que Hitler e seus comandantes se referiam à matança que faziam).

É lixo humano? Nas calçadas e sarjetas dessa mesma rua, havia muitos detritos. Lixo real, frutos da deseducação de grande parte dos moradores de casas, que têm muito a jogar fora. Na rua.

Não acho que a população de rua possa ou deva permanecer nela. Mas pra onde são levados? Alguém sabe? Algum abrigo municipal?

Ou algum lixão humano?

E todos assistiram ao lamentável episódio, paralisados, sem reação. Alguns até apoiavam. Mas nenhum dos presentes reagiu. Talvez por já estarem acostumados com a rotineira grosseria dos agentes envolvidos: funcionários tecnicamente incapacitados da COMLURB, que estão acostumados a lidar com dejetos humanos, e não com seres humanos, agentes da Secretaria de Assistência Social, cuja única assistência dada no momento, era nenhuma, aliás, por que estavam lá? Sua ação não deveria ser preventiva? E finalmente nossos gentis e educadíssimos Guardas Municipais, que se agissem com a mesma energia reprimindo os ambulantes na Avenida Rio Branco, em frente ao Edifício Avenida Central, estariam prestando um serviço muito mais útil à população.

Nos anos 70, eu morava em São Paulo e ainda não se cogitava em ONGS ou OSCIP, e voluntariado, era palavra estranha a praticamente todos.

Pois bem, estudava no Colégio São Luís, onde os alunos tinham a opção de participar voluntariamente da OAF – Organização de Auxílio Fraterno. Não éramos melhores que a juventude de hoje. Mas direcionávamos parte de nosso entusiasmo e energia, distribuindo alimentos e agasalhos para a população de rua. Às vezes até algum alimento era distribuído. Normalmente as ações se davam às sextas feiras e sábados à noite, o que não nos impedia de nos divertirmos após a ronda que fazíamos.

Quem nunca participou, não sabe do bem estar que vai sentir com algo tão pequeno, algumas horas de nosso fim de semana.

Em países do primeiro mundo, portanto mais ricos que o nosso, o ingresso em Universidades leva em conta a participação do candidato em ações de voluntariado.

Serviço Militar Obrigatório? Qual a utilidade? Digam-me, o que realmente faz de útil? Não seria de valor infinitamente maior um Serviço Social Voluntário, que contasse pontos para ingresso em instituições públicas de ensino superior? E as mulheres poderiam aumentar esse contingente.

Novos valores precisam ser incutidos em nossa juventude, sem dúvida. Novas abordagens para aproveitamento dessa garotada em ações sociais, precisam e devem ser pensadas urgentemente por nossos governantes e congressistas.

Não haverá jamais uma mudança nesse país sem o envolvimento dos jovens. E a ação social deve ser motivada entre eles. Bons resultados certamente adviriam inquestionavelmente. Isso já funciona em outras terras, que optaram em envolver sua juventude na solução.

Qualquer país só se desenvolve, ou mais, qualquer ser humano só crescerá em seus valores e caráter, quando perceber, entender e sentir a diferença entre dejetos humanos e seres humanos.

Aí sim, todos nos indignaremos e reagiremos ao presenciar o recolhimento de LIXO HUMANO de nossas ruas.




Antônio Carlos

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